segunda-feira, 11 de junho de 2012

O segredo da natureza - Delírios

É lindo ver uma pessoa a crescer, os cabelos a crescer, uma árvore a crescer. O coração a bater, um momento incontrolável e por isso espontâneo. O tempo deste momento é fascinante. Observar a natureza estimula-nos o mesmo que sonhar, no sentido em que estámos lá mas não podemos fazer nada, ficamos apenas a observar o que aconteçe. É fascinante observar o comportamento das poucas coisas que o Homem não controla. É necessário aceitar que a natureza está lá, tem um segredo que não sabemos qual é. Acho que renegar a natureza é como renegar a nossa mãe ou pai, é a nossa origem. Se renegarmos os nossos pais é porque houve um problema na relação tal como aconteçe no meio natural. A natureza do tudo, a natureza da existência. O verde da liberdade e da morte espontânea. Precoce! O viver o momento, a alegria e o sofrimento. Será que estou louco e foi a natureza que me elouqueceu? Mas eu sou a natureza portanto fui eu que me elouqueci.

domingo, 13 de maio de 2012

Utopia

Destruído por tudo o que via
Um lugar impossível que toda a gente queria
Ninguém acreditava ou sentia
Que o impossível seria
Realidade um dia
Quando passava de uma teoria
A fantasia
Que seria uma horrível Anarquia.

Chamam-lhe rebeldia.
Eu chamo-lhe harmonia
Não é apenas heresia
Acabar com a nossa pseudo-monarquia.
Foi lindo, toda a gente na gritaria
Grita por felicidade e pela simpatia
Mas sempre com a melancolia
Que um dia ia acabar esta poesia

Deixem vir a energia
Deixem dissolver a hierarquia
Ninguém sonhava que existiria
Deus era perfeito mas é o animal que o cria
Cria Deus com que o animal se parecia
Não no corpo mas na maneira como agia
E no meio das montanhas ela nasceria

Lá estava ela linda cheia de alegria
Impossível não era ela, que tão bem crescia
Mas sim o ignorante cuja mente não abria
Tão agarrado ao seu conceito que este lhe mentia
Numa mente que o futuro não chegaria.
Sabem o que eu chamo? Cobardia!
Quem não luta por fobia
à mudança que até o universo arrepia
Senhores do mundo, apresento-vos a Utopia

domingo, 29 de abril de 2012

A história de Mushu - O mistério

Mushu nasceu numa cidade distante. Aprendeu com os melhores a ser o melhor dragão. O seu pai e a sua mãe ensinaram-lhe o que é ser virtuoso. Mushu cresceu com a virtude nos olhos, o orgulho na cabeça e a honra no coração. Aprendeu a defender os seus, a defender-se. Mushu era adorado na sua cidade, uma pérola. Habituado a defendê-la com unhas e dentes. Mal chegou à idade adulta pediu aos seus pais para fazer uma viagem pelo globo, queria conhecer o mundo. Como é que os pais lhe iriam dizer que não? Quem é que não quer conheçer o mundo? Talvez algumas pessoas não. Mas Mushu queria e os pais deram-lhe a viagem. Sabiam que Mushu era um Dragão, a sua honra recuaria qualquer um, e Mushu avançava sempre. Montanhas gigantes, vulcões a ferver, rios a descer pela terra, desertos secos, o nosso dragão atravessou tudo. Sempre com o seu ar sério de herói sobrevivente, realmente ele era um sobrevivente. Se houve alguém mais duro que Mushu naquela altura não teve coragem de se pronunciar. Durante uma tarde a passear pela montanha, ele apaixonou-se. Não é o amor que vemos hoje, é aquele amor que não vemos. Só de olhar para os olhos do pobre dragão diriam que ele ia fazer tudo para a ter a seu lado, e fez! Ofereçeu-lhe um humano como prova de amor, mas ela era humanitariana(não comia humanos), ela ficou enojada com tal oferta. Escreveu-lhe cartas a dizer que lhe dava tudo e ela respondia-lhe que não queria tudo. Certamente ela não gostava de Mushu. Furstrado falou com os pais e amigos a contar o sucedido. " Se ela não gosta de ti como és, ela que desapareca. Tu és como és, tens defeitos e qualidades, e não vais mudar por causa dela". Essencialmente os conselhos foram estes. Mushu tinha perdido, toda a auto-estima que demorou uma vida a ganhar. Era altura de voltar para casa, a subir pelos rios, vulcões gelados, pequenas montanhas, Mushu estava a caminho. Numa das tardes de regresso Mushu passeava pelo campo e viu um homem sentado debaixo de uma árvore. Mushu sentou-se a seu lado, desesperado, e desabafou. O Homem disse-lhe: "Toda a vida é feita de mudança. Ninguém fica igual com o seu processo vital, a vida não deixa ninguém indiferente, por assim dizer. Não devemos ter uma estrutura emocional que nos incentive a não mudar pelos outros. "Somos o que somos e ninguém nos muda", remete sempre para uma certa ignorância. Pior que o Homem que errou é aquele que manteve o seu orgulho e a sua honra persistindo no mesmo erro. Não mudar não significa que mantemos a nossa essência mas sim que deixámos de estar abertos a novas ideias e novas perspectivas. É triste ver um idoso a dizer que já não muda, ainda mais triste vê-lo num jovem, é triste ver a morte. Para conseguirmos mudar, melhorando, temos que conhecer os nossos pontos fracos. A verdadeira pureza do ser é ter consciência das suas impurezas. Só assim mudamos no sentido de nos melhorarmos, e assim melhoramos o mundo. Mas com esta ambição desmedida de melhorar, iamos acabar por não viver o presente. Esta ambição é ilimitada, portanto será que estamos a desperdiçar o presente? Devemos viver o presente? Apenas o presente? A questão do tempo. Todos concordamos que é desinteressante viver o passado. Quanto ao presente a questão fica mais complexa. É claro que não faz sentido prepararmos um futuro que não vamos aproveitar pois quando ele chegar estamos a preparar outro. Resta o "grande" viver o presente. Viver totalmente o presente é não controlarmos a nossa situação. Quem vive apenas o agora não controla o futuro presente. E o futuro presente é muitas vezes a chave do prazer. Grande parte da felicidade é sabermos que vamos fzer algo que nos vai deixar feliz, a ansiedade. Depois de o acto estar feito é triste e enquanto o fazemos é muitas vezes triste porque sabemos que ele vai acabar. Claro que isto não aconteçe em todos os casos mas em alguns. Devemos viver o presente, mas vivê-lo de uma maneira que nos garanta a qualidade do próximo presente. A chave da felicidade não pode ser viver totalmente o presente, mas sim vivê-lo sabendo que vamos continuar a viver um presente tão bom. Muita da felicidade vem dessa segurança. Então a nossa mudança deve ser feita com o que para nós é melhor, grantindo que estamos a mudar para melhor. Então o tempo, o presente deve ser dispendido com o que para nós é melhor, tendo sempre atenção ao futuro. Porque nem nós podemos piorar, nem o presente. O que quer que faças, vais ser sempre tu. Mesmo que mudes toda a vida, a tua essência vai estar sempre lá. Tal como o que viaja pelo mundo, aprende a ter uma casa dentro de si. Mudar não é fraqueza, mudar é força. Saber que a honra não é nada, é algo relativo numa pequena mentalidade. A grande mentalidade não tem honra, conhece o mal, e tenta alcançar o bem, que não existe universalmente, mas dentro de si. É muito dificil encontrar o nosso bem." Mushu olho-o nos olhos e sorriu. Levantou-se e foi ter com ela, mal a viu, abraçou-a a contou-lhe que tinha mudado. Nunca mais entraria em guerras, nunca mais defendia os seus atacando outros. Apartir de agora ia sempre sorrir. Sempre, sempre, sempre. Mushu mudou. Aí reside o mistério. Escusado será dizer que nunca mais voltou para casa, tinha encontrado a sua própria casa dentro de si, tal como o guru disse.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Felicidade?

Diz o sábio que quem vive na floresta a lutar pela sobrevivência é verdadeiramente feliz. Diz o senhor das sete vidas que a verdadeira felicidade vem de uma vida curta. O sensato sussurra que a eperiência de vida é a tua felicidade. O existencialista grita aos céus que tu és apenas feliz depois de seres infeliz. A verdadeira felicidade é, segundo Mushu, viveres. Viver não será o mesmo que estar vivo, estar vivo é não estar morto. Viver é ter a consciência da existência de algo em prol da não-existência. Quanto melhor tiver eu consciência do momento que vivo e da minha existência mais feliz serei naquele momento. Por isso, a meditação é usada como método de auto-consciência universal que aspira a um estado de felicidade sobrenatural, quando maior for essa visão. Para uma pessoa que espera a morte, estar vivo é ser feliz, mas será ser feliz estar vivo para quem já se habituou? Nada é felicidade para quem se habitua. Por isso o sábio disse que lutar pela sobrevivência seria a verdadeira felicidade porque um humano nunca se habitua. E, no dia que se habituar, está morto, e assim nunca poderá ser infeliz. Mas se ele nunca será infeliz, ele vai-se habituar a ser feliz e vai perder a sua felicidade no rio que atravessou toda a vida. O senhor das sete vidas diz que o avisou e por isso é que lhe disse que a felicidade era ter uma vida curta, é a melhor maneira de, seguindo o sábio, ser feliz. Assim não há tempo para se habituar. E quanto mais curta for mais vida terá, mais concentrada será a experiência da vida. A vida perfeita seria uma experiência de vida muito completa numa vida longa em vez de curta. Aí o sensato ri-se e começa a dançar. O existencialista permanece sentado e diz ao sensato que se a experiência de vida não pode ser sempre boa pois cria habituação. Todos os seres humanos têm experiência de vida e não é isso que os faz felizes. O que os faz felizes é depois de uma má experiência terem uma felicidade comparativa. Só é feliz quem sabe o que é a infelicidade. Só é livre quem sai da prisão. Então quem tem razão? O sensato? O sábio? O senhor das sete vidas? O existencialista? Só os fracos têm razão, o mundo é demasiado bonito para isso, ao menos estamos vivos, disse Mushu.

quinta-feira, 22 de março de 2012

O que nos torna plenamente humanos?

O ser humano é um animal. Um animal diferente. Um animal que tenta desobedecer às regras naturais do mundo. Desde os primórdios da humanidade que o Homem se destacou evolutivamente em relação ao resto dos animais. As abelhas de hoje não são muito diferentes das abelhas de há quinhentos anos, ambas seguem a sua lei da sobrevivência. Mas o que faz o Homem de hoje ser incrivelmente diferente ao Homem de há quinhentos anos (ao contrário da abelha) é o seu desejo de conseguir algo mais que a simples sobrevivência. O Homem quis evoluir-se, quis descobrir o mundo em que vive, tentou deixar que fosse só a natureza a evoluir o mundo, e tentou evolui-lo ele mesmo. Aí o ser humano tentou-se afastar ao máximo dos seus instintos naturais e começou a criar cultura. Para entendermos bem a questão do que nos torna plenamente humanos temos que primeiro perceber o que é que nos distingue do resto dos animais. Em que processo é que deixamos de ser animais e passámos a ser humanos.


Apesar do ser humano ter criado cultura não conseguiu nunca tirar a natureza do seu ser. É-nos natural comer, portanto quando estamos realmente com fome não pensamos noutra coisa sem ser em comer. Quando estamos apaixonados por mais que a nossa razão nos impeça, o instinto prevalece. Assim podemos dizer que os nossos comportamentos quando são naturais são espontâneos, ou seja, não temos controlo voluntário sobre eles. Nós, os animais, não conseguimos controlar a nossa natureza, a nossa espontaneidade. Mas os Homens não quiseram fazer da natureza a sua vida e quiseram criar a sua própria realidade. E essa realidade que o Homem criou é todo o que nós hoje vemos como não-natureza. Então foi necessário agir, agir com reflexão sobre a acção, ao contrário do resto dos animais. Claro que mesmo hoje nem sempre os Homens agem com consciência da sua acção, por exemplo no que toca à violência, agem por instinto. Com este início da nossa reflexão e pensamento começámos a criar sociedades, com o objectivo de progressão e evolução do mundo. Estas sociedades eram diferentes dos nómadas ou das sociedades que o resto dos animais formava. Eram sociedades não-naturais, eram um reflexo da não-espontaneidade, eram sociedades baseadas no pensamento da altura, na cultura vigente. Tentámos por via do pensamento construir a melhor realidade possível de modo a evoluir o mundo à nossa maneira.


Muitas pessoas diriam que o que nos torna plenamente humanos é termos o dote(inseparável da nossa essência) de construir cultura e o resto do reino animal não. Mas se olharmos à volta do mundo vemos diferentes culturas, em guerra, donos da verdade universal. A cultura provoca um etnocentrismo muito pouco saudável. As grandes desigualdades no mundo vêm daí. Não vemos os animais em guerra, porque eles só se atacam para satisfazer as suas necessidades fisiológicas, mas os humanos, para além de matarem para satisfazerem as suas necessidades fisiológicas, matam para satisfazer as suas necessidades culturais. A cultura está assente em valores que se alteram consoante a sociedade e o tempo e é algo que todos os humanos têm. Na pergunta “O que nos torna plenamente humanos?” responder cultura seria desadequado porque todos temos uma mas é sempre diferente, para isso seria mais adequado responder a fome, por exemplo, que todos temos mas é sempre a mesma. Dizer uma coisa que todos temos, que nos caracteriza de diferentes formas não é dizer o que é ser um humano. Mas, então, o que é que nos torna plenamente humanos? O que é que nos une enquanto humanidade?


Nós temos a nossa acção dividida em dois tipos, a natural e a humana (é engraçado como se divide a natureza do Homem como se este tivesse criado a sua própria natureza). A acção natural é aquela que os animais detêm na sua totalidade e que nós tentamos ao longo dos tempos diminui-la. É a acção espontânea, a acção que obedece às regras naturais interiorizadas na nossa essência. A acção humana é uma acção baseada nas escolhas que não são sacrificadas pelo nosso espírito racional. Estas escolhas adequam as nossas necessidades ilimitadas aos recursos escassos (princípio base da economia). Então esta acção humana não é um olhar sobre a sobrevivência de hoje, como a natural, é um olhar sobre a sobrevivência do amanhã. Pensarmos não de modo a sobreviver mas em garantir uma boa vida amanhã. Esta sempre foi a grande preocupação do ser humano, viver bem, pois viver bem é felicidade e felicidade é a finalidade vital.


O existencialismo olhou para os humanos como seres poderosíssimos. Donos de si próprios, seres livres. A minha opinião humanística reside muito aí, os humanos são humanos porque agiram contrariamente às leis da natureza e isso implica liberdade. Nada neste mundo é mais forte que a natureza, porque o mundo é natureza, e não há nada no mundo mais forte que o mundo, tal como não há nada em nós mais forte que nós mesmos. Logo se nós conseguimos aplicar a nossa liberdade à natureza, conseguimos aplicá-la em todo o lado. Claro que é possível argumentar que o humano é dotado de todo o tipo de vícios fisiológicos e por isso não é livre. Ou que nasceu no seio de um regime totalitário e por isso não é livre. Mas ele é livre porque pode escolher. A liberdade são escolhas no qual sacrificamos uma delas e prol da outra (custo de oportunidade). O animal rege-se às leis naturais ao contrário do ser humano que pode fazer escolhas. Mesmo que a sua realidade não lhe dê liberdade, pode escolher morrer, matar-se, e isso é ser livre. Os animais podem escolher morrer mas não é uma escolha como nós a entendemos pois eles não têm a nossa consciência de acção.


A liberdade tem duas conotações. A conotação positiva está na possibilidade de escolhermos. A conotação negativa reside na ideia que eu estou a agir livremente porque ninguém me impede. O que, na minha opinião, não é necessariamente negativo. Só é negativo se eu estiver a agir mal (interferir na liberdade do outro) e ninguém me impedir. Mas se eu estiver a agir bem e ninguém me impedir é um passo para o progresso. É uma ideia muito apoiada na maioria das sociedades, a que o humano não é responsável o suficiente para agir bem em liberdade, sem que alguém o controle.


O animal não age porque não tem consciência da sua acção, não é livre, não pode escolher. Mas sendo nós os seres livres e dotados de um poder interior incrível que a natureza nos ofereceu e que nós desenvolvemos, devemos assumir o nosso papel e a nossa maior responsabilidade. Tal como a liberdade existe até interferirmos a liberdade dos outros, a nossa liberdade existe até interferirmos a liberdade do resto do reino animal, que não tem culpa das nossas acções irresponsáveis. Não é necessário interferir na liberdade dos outros para mostrarmos a nossa própria liberdade. Somos um ser fascinante mas que se convenceu do facto de ser fascinante achando-se assim o dono do mundo. Não devemos esquecer que nenhum animal é irrelevante no mundo. Uns têm mais liberdade, outros apenas sobrevivem. O que nos torna plenamente humanos é sermos livres, agindo com consciência das escolhas que fizemos. O que nos faz ser humanos é não agirmos muitas vezes naturalmente, mas sim humanamente, baseando-nos nos nossos próprios valores e não nos universais da natureza. Porque nós criamo-nos a nós próprios. Nós existimos para melhorar a nossa existência. Tal como Nietzsche referia que não valeria a pena ter filhos se não fosse para fazer uma versão melhorada de nós mesmos (provavelmente para chegar ao super-Homem). Na minha opinião não vale a pena continuarmos a ser humanos se não estamos a criar uma versão melhorada do mundo.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Conversas (1) – Conversa com Descartes

Falei-lhe da questão dos sentidos nos enganarem. Da linha do horizonte não ser uma linha. De colocarmos um braço debaixo de água e provocar uma ilusão óptica. De não podermos ter uma certeza do mundo físico. De acharmos que a realidade está lá mas ao sermos enganados pelos sentidos não temos provas da sua veracidade. Da perfeição não ser enganada, da perfeição ser sábia, da perfeição não sermos nós. Como é que, com a nossa imperfeição, alcançamos então o conhecimento verdadeiro, essa veracidade? E porque estamos condenados a ser imperfeitos?
Descartes entrou na corrente de perguntas e acrescentou. Então como é então possível saber o que é o conhecimento verdadeiro universal quando não o conhecemos, sendo inalcançável. Como é que este conceito existe na nossa cabeça , como é que um mundo de imperfeitos sabem que pode conceber a existência de perfeição. Então logo a seguir Descartes responderia à sua própria pergunta, teria que existir um Deus. Um Deus como Ser Perfeito, como ele referiu a sorrir. Como só o que é perfeito pode ser a causa da ideia de perfeito. Deus existe, afirma convincentemente.
Rapidamente e, claro, atenciosamente perguntei como pode ser esse Deus a perfeição se concebeu a imperfeição. Se virarmos o jogo para o lado dele, como pode ele ser perfeito e conceber a imperfeição? Como pode ele ter a solução e criar-nos sem o conhecimento dela, nesta espécie de jogo? Talvez começo a suspeitar que Deus nos engana.
Ele soltou um riso e afirmou rapidamente que também ele próprio tinha duvidado disso. Mas que Deus é omnipotente e perfeito e que enganar é sinónimo de fraqueza. É justo. Deus realmente pode não nos enganar na medida em que nos mostra o perfeito e não o esconde assim temos consciência da nossa imperfeição e isso não é engano. Dar-nos a conhecer a perfeição.
Então rapidamente fiz-lhe uma proposta. Uma maneira de Deus como ser perfeito existir, conceber-nos imperfeitos e não nos enganar é nos sermos individualmente imperfeitos. Mas todas as imperfeições no seu todo completam todas as partes de todos os truques no mundo. A perfeição de todas as imperfeições juntas. Tal como o jogo do prisma de Newton, quando as cores se sobrepõem sobre a retina do olho do observador, dando a sensação do branco. Assim Deus é todo o ser vivo. É a ideia de perfeição que nós temos mas claro devido às nossa experiência e realidade não universal alcançada que não alcançamos esta ideia. Mas quando se junta o todo é concebida uma ideia de perfeição que é Deus. Supostamente Deus é tudo, nós o que nos rodeia, o que não nos rodeia, e o que nos rodeia mas que nós desconhecemos. É a verdade universal e quem a conhecer tem o seu conhecimento. Metade mais metade é igual a um. Um todo, provado matematicamente como o próprio gosta. Mas continuo sem perceber se estamos condenados à imperfeição.
Ele levantou-se, soltou uma gargalhada e foi-se embora. Não sei se concordou comigo ou se entendeu a minha ignorância e brinca com o facto de saber a solução. Qualquer que seja a sua atitude acho que entendeu o meu ponto de vista. Mas, no fundo, quem sou eu? Um imperfeito. Quem é ele? Um imperfeito. Não posso pensar que sou imperfeito mas sim que sou uma parte da perfeição.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Falando de metafísica, Parte 1 - A natureza, a vida e o sonho. Acordar

Esta sim, esta noite. O velho treme com lágrimas nos olhos. É estranho relembrar que o infinito existe e que estamos diante dele. Os pensadores do mundo permanecem com a sabedoria roubada. Com sonhos vividos, vidas realizadas, a chorar de alegria. Eu adorava dizer-vos como foi este dia, mas ninguém me disse, é incrível a maneira como a beleza paralisa o cérbero. O cérebro paralisa a boca, e a boca o mundo. O mundo fica quieto, por momentos, o tempo para o infinito. Ver o infinito a aproximar, começar a senti-lo e vê-lo a passar. Ver a destruição. Ver a construção. Ver um riso. É lindo ver uma pessoa crescer. O coração a bater. Ver uma árvore crescer. O tempo deste momento espontâneo é fascinante. Observar a natureza é uma espécie de sonho. Um sonho no sentido de estarmos lá mas não podermos fazer nada. Como observar uma peça, estamos dentro da história mas não participamos nela. Mas adoramos a ideia de que ela tem o seu próprio ciclo. Esse ciclo é-nos essencial para a nossa sobrevivência. Esse segredo escondido da natureza. Ninguém sabe de onde vem, mas está lá. E admiras esse segredo, mesmo não sabendo o que é, ou seja, não sabes o que admiras. Quando descobrires o que admiras, consegues entender qual é o teu objectivo vital e quem realmente és tu. E aí percebes o teu caminho e segues a tua natureza. Descobri-la é possível. Mas é um processo extremamente complexo na medida em que tu tentas recuperar a natureza. É mais difícil recuperarmos o que deitamos fora, o que retraímos, do que aquilo que nos é novo. Voltar a agarrar a nossa natureza parece um processo desinteressante em algumas sociedades, mas é essencial. A natureza do tudo, a natureza da existência. O verde da liberdade e da morte espontânea. Precoce. O viver o momento. Viver a alegria e o sofrimento. Viver a loucura que não existe. Se olharmos para o facto dos nossos sentidos nos enganarem, vemos que podemos estar a construir uma realidade que não existe. Podemos ver o que não é, sentir o que não é, estarmos iludidos do que pensamos ser a realidade. Aquela pensamos ver e viver. Tal como quando sonhamos pensamos ver uma realidade que não existe. Nunca pensou se a sua vida não seria apenas um sonho? Se isto não é tudo apenas uma ilusão da realidade? Se entrarmos na perspectiva metafísica que a vida é, de facto um sonho, é interessante. O nosso medo tremendo da morte, do fim da vida, do fim de um sonho, é difícil acordar quando se dorme, então se o nosso sonho for curto ainda mais. É difícil ter uma vida curta, é difícil ter uma noite curta. Mas no sonho existe uma intensa realidade, em que tu pertences mesmo ao sonho. Tal como, quando vives tu estás completamente focalizado no objectivo de aproveitar de forma positiva a tua existência. Mas se o sonho é impossível de controlar, estarei a sugerir que as nossas vida, sendo sonhos, não serão possíveis de controlar? Tal como nós pensamos estar a controlar um sonho? Estamos a pensar controlar uma vida que na realidade não estamos? Tal como um individuo, durante uma vida tem inúmeros sonhos, um vida é um sonho em que a essência do individuo dentro de ti tem imensos. Durante a sua existência. Isto é uma linha de pensamento que é interessante ser partilhada. Se a vida é um sonho, então talvez seja necessário acordar. Como acordar? O que é acordar?

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O sentido das coisas e o sofrimento consciente

No mundo físico, a importância das coisas não é hierarquizada. O que torna valiosa a água é o facto dela ser essêncial para a sobrevivência do ser humano. O que torna valioso o ouro é o valor que o humano lhe deu, devido à sua quantidade. Se ele vos perguntar quem era Ghandhi, por exemplo, a resposta obtida não vai ser uma descrição de Ghandhi no mundo fisico. No mundo fisico são todos praticamente iguais. A resposta vai ser a ideia que a pessoa tem de Ghandhi. Resumindo, vivemos num mundo em que tudo são ideias. Um piano é algo inútil para quem o não sabe tocar, mas algo essêncial e de uma importância extrema para quem o saiba tocar.
Se nos apercebermos que a nossa interacção com as coisas do dia-a-dia é baseada na representação mental que temos sobre elas e o sentido que lhes damos podemos analisar o sofrimento consciente. O sofrimento consciente, é um sofrimento não-físico, ou pelo menos, mais psicológico que físico. O sofrimento consciente depende então do sentido que lhe damos.Depende da importância que lhe damos.
Ele apercebeu-se que não sofre, que nada sofre em si. Sofre com uma ideia de sofrimento e se através de treino e higiene mental eliminarmos esta ideia de sofrimento conseguimos destruir a maior parte dos sofrimentos e minimazar os maiores.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A vida tornar-se-á uma aparente realidade, uma aparente ilusão.

Ele acorda, não fala, fica sozinho queimando o mundo com o seu olhar. Desmaia outra vez, não sabe como chegar a casa, pior não sabe onde é a sua casa, assim fica aconchegado na sua mente prestes a colapsar. Quem tem razão? A mente ou coração? Razão proveniente da verdade, esta última, fugida do mundo mas internacionalmente procurada… Como procuro eu o que não existe? Chama-me louco, chama-lhe louco, mas ao chamar-me tu sabes que a verdade foi morta pelas diferentes perspectivas da vida. Não lhe chames louco! Ele apenas não se sente bem, faz bem voar, o perigo é manter os pés na Terra. Cheia de pessoas, cheia de maldades, vazias de tudo o que devia estar cheio. Não acordes, no teu pior estado a tua mente não tem outra opção senão ser tua amiga, para isso, tens que lutar pela sua confiança. Agora caminha, à espera de encontrar o nada, a dita solução de tudo. Ama-te não deixes que sejam os outros a amar-te e ele continua sem saber como voltar para casa.
Olha para o lado, não consegue abrir os olhos, também não consegue dormir. Só te pede para tu brilhares na tua beleza final, porque essa beleza alimenta a minha felicidade, e a tua recordação torná-la-á eterna. Lá vai ele outra vez, de olhos fechados, percorrer o caminho que ninguém percorreu, o frio que não pára, o calor que nunca aqueceu nada para além da nossa percepção… Ele não sabe o seu destino (aquele que não existe), só sabe que mudará o mundo, sozinho, acompanhado por ladrões desprezados pela pátria. Chegou, ao destino( ao que não existe), é um buraco, defronta-se à sua frente. Puxa-o para baixo e projecta-o para cima com toda a força e cospe-o para o inferno, quente, frio, um local de festa? Aí ele disse que era um viajante diferente dos sedentários terráqueos, o seu objectivo era não ter nada, estar tão cheio dentro de si que está saturado cá fora. A sua alma, rica em poder que ele poderia aplicar a quem quisesse. Um poder fortíssimo que requeria uma grande responsabilidade. Lá estava ele, outra vez continuando sem saber onde está e, logicamente, sem saber onde é a sua casa.
Finalmente saiu do inferno, por ter tudo dentro de si, ninguém lhe consegue tirar o que está dentro dele, os seus pecados não irão sair, e assim continuará o seu caminho. Chama-se a isso, meus caros, o reconhecimento do mal, a profunda pureza. Viu uma fogueira, deu aos 40 ladrões licença para dançarem, dançaram pelo amor, pela vida, liberdade, que por sua vez já devia ter existido há alguns anos, se calhar já existia, só agora é que ele a sentia. E foi aí que ele a viu e desfez-se em penas prestes a voar para outro mundo, viu um mundo nos olhos dela, sorriu, olhou para a fogueira, está linda, cheia de cores, emoções, espelhos, ladrões, sensações, o abstracto da vida. Aí ele não podia ficar calado toda a vida recusou a conformidade, revoltou-se, agora era a altura de falar, abriu a boca e saltou-lhe o coração e caiu no chão… eles os dois olharam para ele. Os ladrões podiam-no ter roubado, mas os assumidamente ladrões são os mais honestos. Ele sentou-se a olhar para a fogueira, sim, o amor é uma dependência que provém da vontade desconhecida. Agora sim sabe onde é a sua casa, com a sua respiração ainda intensa, sorri, e cai nos braços do universo.
AGORA SENTE A TERRA, DESLIGA-TE DO MUNDO

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A nova democracia


A politica sempre foi fundamental para a evolução da sociedade e do Homem. O mundo viveu a monarquia, república, comunismo, fascismo, etc. O sistema politico mundial
predominante é a democracia. Esta politica do povo foi apelidada como “ a forma
mais justa de politica que o mundo conheceu”. Esta frase sempre me intrigou, é
para mim um desafio, criar algo mais justo. Tentei pensar sobre algo mais justo
e independente que não originasse uma discussão sobre a anarquia, que depois
gerava uma discussão sobre a existência de uma sociedade sem circulação
monetária. E no fim claro, o famoso debate sobre utopias que eu não pretendo
ter para já.
Feita a introdução, imaginemos agora uma nova democracia. Esta última possui um estado que é absolutamente igual ao que temos hoje, em termos gerais, mas com uma pequena diferença. Este estado possui um centro de debate diário, que é constituído por filósofos, economistas, políticos, cidadãos que partilham todo o tipo de visões
e opiniões. Este centro ia substituir o governo. Todos os problemas dos país
iam ser debatidos e consoante as divergentes opiniões de dois em dois meses
eram feitas umas eleições electrónicas, altamente controladas, em que as
pessoas votavam na sua ideia favorita sobre cada problema abordado nos últimos
dois meses. Assim a democracia deixava de ser à base de pessoas mas sim de
ideias. Em vez de um leitor ter que se decidir entre partidos e estereótipos vendo
qual destes tem mais soluções que lhe agradam, pode apenas votar nas soluções
que mais lhe agradam sem ter que, forçosamente, prescindir de umas para pôr em
prática outras. O problema de haver um primeiro - ministro é que este é eleito
consoante a qualidade das suas ideias no momento da campanha, mas depois, os
problemas são outros e ninguém garante que as soluções mantenham a sua
qualidade. Nesta democracia à base de ideias ele não seria eleito, apenas as
suas ideias, e na altura em que as suas ideias se tornassem menos boas, haveria
outro, que se lembraria de uma solução mais eficaz. Cada pessoa tem a sua
especialidade nos problemas que resolve na vida, é irresponsável e imaturo
entregar um país inteiro a um ser humano.
Estas eleições de dois em dois meses podem parecer dispendiosas, mas não seriam de todo, era tudo feito com um sistema de alta segurança electrónico ou, se isso não fosse possível, era feito como as eleições são actualmente. Sempre era menos
dispendioso fazer eleições de dois em dois meses do que ter que pagar todos os
gastos que o governo e partidos concorrentes fazem, quer em campanhas, quer no
seu dia-a-dia. Para além da sua politica, esta nova democracia seria
economicamente mais vantajosa.
É claro que sempre surgiu um problema quanto a este tipo de politica que está acente no facto do povo não ter conhecimento para ver para além do seu bem e pensar num bem maior. Isto só seria possível com uma reformulação profunda do sistema de ensino e das mentalidades. Assim iriamos criar uma geração com base no conhecimento, honestdade e sabedoria.
Sabemos que a politica surgiu como sendo uma ideia e não uma pessoa. Deixemos a necessidade de termos um governo. Assim esta nova democracia é ainda mais democrática
porque, em vez do povo eleger alguém, elege todas as ideias dessa entidade. É
um maior controlo, e estes cidadãos pertencentes ao centro de debate, os
supostos “substitutos do governo” iam-se apenas ocupar de colocar hipóteses de
solução. A mim parece-me um sistema viável, seguro, justo, honesto e evoluído.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Se eu o pudesse descrever, dizia que ele muitas vezes aprendia com os seus erros. Foi
isso que o fez chegar tão longe, ele via a sua vida como um ciclo, tudo vem e
volta, todos os dias é um novo dia. O seu segredo era acordar outra vez, de
novo, do nada. Ele vivia da maneira como queria ser recordado depois de morrer,
ele vivia com um sorriso. Cada um de nós o tem. Ele mudou uma geração, ele pôs
homens e mulheres a chorar só para os ver a seguir pararem de chorar. A sua
felicidade vinha como fim da infelicidade, ele procurava a miséria na vida só
para no fim sair dela, ter essa possibilidade. Mas hoje enterramos um
Homem, ele criou uma sociedade, ele mudou o mundo, coitado tinha um sonho e naquela altura os sonhos eram mortos, o dinheiro era tudo. Meus Caros, toda aquela mesquinhez, aquela falsa verdade acabou! Hoje fizeram uma promessa, hoje vão cumpri-la, a nova sociedade está prestes a nascer em honra, do que aparenta ser o verdadeiro Salvador, o que disse que ao passado
não voltamos, só pudemos voltar ao futuro. Hoje queimarei esse Homem, alvo de
olhares de todo o mundo, o pensador do mundo, não tinha nome nem país. Mas
tinha um mundo e sinto-me orgulhoso por vos dizer que nós todos fazemos parte
desse mundo. A quem agradecem quando a cultura morre? A quem agradecem quando
politica morre? A quem agradecem que o vosso velho “eu” morre? Eu sei a quem o
vou fazer, obrigado por tudo.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A Morte

Todos os seres humanos sabem que ao nascermos a única coisa que nos está garantida é a nossa morte. Sendo esta inevitável temos medo dela, porque o Humano tem medo de tudo o que não consegue controlar. O percurso deste é marcado por um tremendo afastamento da natureza, com a tentativa de construir uma sensação ilusória de segurança. Partindo do pressuposto que algo por não ser controlável é necessariamente mau. Será morrer mau?
Os humanos têm um tremendo medo da morte, tal como têm medo da natureza, dos seus perigos. Esta é bastante semelhante à morte, são ambas forças sobrenaturais, incontroláveis e, acima de tudo são ciclos. Até podemos dizer que a morte é natureza. É de facto natural. Também podemos dizer que natureza é origem de algo. Se a morte é natureza e esta última é origem de algo, podemos se calhar perceber que a morte é origem de algo. Desconhecemos esse algo, e é esse algo que nos atormenta.
Existem muitas pessoas que se juntam a religiões como meio de enfrentar o problema que têm para com a morte. Como meio de tentar encontrar uma explicação metafísica já criada para este problema. Mas quando lhes morre um ente querido percebe-se que o seu problema não foi inteiramente resolvido. Tanto que fizeram para o resolver e não conseguiram. Foram provavelmente pelo caminho fácil. Em vez de aceitarem a morte, acreditaram que era possível fugir à morte. Muitas vezes os Ateus até têm mais maturidade para este tipo de questões. Os Ateus é que teriam razões para sofrer pois eles não acreditam na eternidade. Os ditos “católicos” enterram ou cremam os seus entes queridos, lavados em lágrimas, em puro sofrimento. Fazendo as suas rezas e tabuadas decoradas à espera que o seu Deus, supostamente sabedor de tudo, acredite na sinceridade das suas rezas e salve o falecido. Num hospital, quando um ser está preste a morrer, os familiares pedem para que não se diga isso ao paciente. Mas ele sabe, o médico sabe, a família sabe, todos sabem.
Se alguém tem medo da morte tem que pensar como era antes de começar a viver. Interiorizar que a essência da morte é não - existência e não (-) sofrimento. A morte será a paz total e profunda. O nosso físico morre com a nossa morte, mas não morre connosco. A nossa alma, a nossa essência trabalhada durante a nossa vida é reenviada para o universo. Quando se fala em reincarnação é na medida que alma vai, mas quando nasce um bebé, volta. Mas não é a nossa essência que voltou, é uma mistura de todas. Porque esta não é algo limitado, não recorre à forma. Não existe no mundo físico portanto não pode ser destruída nesta mesma dimensão. Quanto a nós, é assustador não sentir nada, mas se algum dia conhecermos a paz no seu estado puro, é com o nosso colapso físico e mental. E somos sortudos por ter a oportunidade de conhecê-la.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Verdade Universal

A verdade universal é uma verdade em qualquer tempo, em qualquer lugar, uma verdade
absoluta. Este debate de ideias é uma das mais importantes bases filosóficas
que uma pessoa pode ter. Parecendo que não, sustentam teorias futuras sobre
qualquer tema. Há duas maneiras de obter conhecimento: uma grande parte pela
experiência e outra pelo pensamento. A experiência engloba o conhecimento
transmitido pelos nossos antepassados, o conhecimento da realidade, o que nos
ensinam, o que nós vemos, sentimos, tocamos, ouvimos. Pode-se dizer que a
experiência é tudo o que é percepcionado por um determinado ser, implicando a
sua relação com o mundo físico.
Depois temos o pensamento, tudo o que revela a nossa identidade, tudo o que nós
reflectimos, todas as decisões que nós tomamos. É a maneira como nós adquirimos
essa experiência, ou então como a criamos. Toda a gente já criou experiências
no seu pensamento, como um sonho.O pensamento faz com que um humano analise de
maneira diferente uma determinada experiência. A experiência origina sempre um
pensamento, mas nem sempre um pensamento necessita da mesma. Um pensamento
necessita de reflexão e escolhas, e todas as nossas experiências envolvem essas
duas condições. Tudo o que nós vemos são escolhas, só apenas o debate entre
respirar ou não respirar já é uma escolha.
Uma vez um conhecido meu, queria-me provar que a experiência era a base de todo o
conhecimento. Então ele criou um exemplo, duas crianças nasceram dentro de dois
cubos, uma em cada. Durante doze anos viram o mesmo, alimentaram-se do mesmo, viveram
assim fechados. O que ele queria provar é que essas duas crianças com doze
anos, com a mesma experiência de vida, eram iguais. Tinham maneiras de pensar
idênticas, tinham opiniões iguais etc. Eu na altura não concordei com o que ele
propôs, nem concordo agora. Porque depois de uma grande discussão, já estávamos
na origem de todo este pensamento, e estávamos em desacordo e certamente não
saímos a concordar dali. Ele acreditava na verdade universal, eu não. Porquê
que eu não acreditava? Nunca concordei com essa maneira de ver as situações. Mas
no fundo o que podemos dizer desta verdade? Qual é a real questão que este
exercício nos traz? Este exercício traz-nos uma questão muito importante -
Seremos nós um fruto da experiência ou um fruto da nossa essência? Eu sempre
gostei da vertente existencialista de olhar para os seres humanos como um ser
com uma essência peculiar. Dizer que estas crianças seriam iguais no seu
interior é dizer que nós somos apenas transportadores de vivências, pensamos o
que as nossas experiências reflectem. Se assim for, se a nossa experiência de
vida for a base do nosso conhecimento, podemos dizer que a verdade universal
tem fracas probabilidades de existir. Ninguém tem uma experiência de vida igual
ao outro. Isto é, ninguém vê as situações da mesma maneira, todo o conhecimento
originário de perspectivas é completamente subjectivo. A verdade universal
perde o argumento quando se pergunta ao um padre porquê que ele acredita em
Deus e vão perceber que a sua experiência de vida foi completamente encaminhada
para tal.
A verdade universal existe, mas não é alcançável pelo ser humano e nenhum sitio nem
lugar. Nós fazemos parte da verdade portanto não podemos conhecê-la, tal como
uma faca não se corta a si própria ou um olho não se consegue ver a sim mesmo.
Nós fazemos parte deste conceito e nunca o vamos conseguir analisar
imparcialmente, pois estamos carregados de opiniões, pensamentos e
perspectivas. Assim se diz que o verdadeiro conhecimento e desistir de todas
estas complexidades e limpar o nosso sistema, só assim a alcançaremos. Será
possível?

Yamantaka


Yamantaka tem 11 cabeças, 18 braços e 18 pés. Yamantaka é conhecimento, é sabedoria. Yamantaka é um monstro. Este monstro dança, manipulando todos os deuses, incluindo o próprio Buda. O cristianismo denominou como adoradores do diabo aqueles que se fascinavam por Yamantaka. A sua cara principal é talvez semelhante à da besta que o cristianismo concebeu. Vejamos que Yamantaka possui uma face principal, uma que não consegue ser vista pelas outras, a sua verdadeira face digamos assim.Yamantaka não tem ego, não tenta mostrar a sua sabedoria. Yamantaka é uma representação da união de todos os humanos. Yamantaka representa a iluminação, o desafio da morte, como último conhecimento de tudo. Tem ciente em ti o espírito de Yamantaka.

Os jogos de lógica I

"Um homem é condenado à morte, mas apresentam-lhe uma possibilidade de escolher entre duas formas alternativas de execução. Fará uma declaração e, se esta for verdadeira, será enforcado; se for falsa, guilhotinado. O homem diz: "Vou ser guilhotinado." Assim se o guilhotinam a declaração torna-se verdadeira, pelo que deverá ser enforcado. Mas, se o enforcam, passa a ser falsa, pelo que verá ser guilhotinado. E sempre assim até ao infinito."
Excerto de O Budismo Zen de Alan W. Watts