domingo, 29 de abril de 2012

A história de Mushu - O mistério

Mushu nasceu numa cidade distante. Aprendeu com os melhores a ser o melhor dragão. O seu pai e a sua mãe ensinaram-lhe o que é ser virtuoso. Mushu cresceu com a virtude nos olhos, o orgulho na cabeça e a honra no coração. Aprendeu a defender os seus, a defender-se. Mushu era adorado na sua cidade, uma pérola. Habituado a defendê-la com unhas e dentes. Mal chegou à idade adulta pediu aos seus pais para fazer uma viagem pelo globo, queria conhecer o mundo. Como é que os pais lhe iriam dizer que não? Quem é que não quer conheçer o mundo? Talvez algumas pessoas não. Mas Mushu queria e os pais deram-lhe a viagem. Sabiam que Mushu era um Dragão, a sua honra recuaria qualquer um, e Mushu avançava sempre. Montanhas gigantes, vulcões a ferver, rios a descer pela terra, desertos secos, o nosso dragão atravessou tudo. Sempre com o seu ar sério de herói sobrevivente, realmente ele era um sobrevivente. Se houve alguém mais duro que Mushu naquela altura não teve coragem de se pronunciar. Durante uma tarde a passear pela montanha, ele apaixonou-se. Não é o amor que vemos hoje, é aquele amor que não vemos. Só de olhar para os olhos do pobre dragão diriam que ele ia fazer tudo para a ter a seu lado, e fez! Ofereçeu-lhe um humano como prova de amor, mas ela era humanitariana(não comia humanos), ela ficou enojada com tal oferta. Escreveu-lhe cartas a dizer que lhe dava tudo e ela respondia-lhe que não queria tudo. Certamente ela não gostava de Mushu. Furstrado falou com os pais e amigos a contar o sucedido. " Se ela não gosta de ti como és, ela que desapareca. Tu és como és, tens defeitos e qualidades, e não vais mudar por causa dela". Essencialmente os conselhos foram estes. Mushu tinha perdido, toda a auto-estima que demorou uma vida a ganhar. Era altura de voltar para casa, a subir pelos rios, vulcões gelados, pequenas montanhas, Mushu estava a caminho. Numa das tardes de regresso Mushu passeava pelo campo e viu um homem sentado debaixo de uma árvore. Mushu sentou-se a seu lado, desesperado, e desabafou. O Homem disse-lhe: "Toda a vida é feita de mudança. Ninguém fica igual com o seu processo vital, a vida não deixa ninguém indiferente, por assim dizer. Não devemos ter uma estrutura emocional que nos incentive a não mudar pelos outros. "Somos o que somos e ninguém nos muda", remete sempre para uma certa ignorância. Pior que o Homem que errou é aquele que manteve o seu orgulho e a sua honra persistindo no mesmo erro. Não mudar não significa que mantemos a nossa essência mas sim que deixámos de estar abertos a novas ideias e novas perspectivas. É triste ver um idoso a dizer que já não muda, ainda mais triste vê-lo num jovem, é triste ver a morte. Para conseguirmos mudar, melhorando, temos que conhecer os nossos pontos fracos. A verdadeira pureza do ser é ter consciência das suas impurezas. Só assim mudamos no sentido de nos melhorarmos, e assim melhoramos o mundo. Mas com esta ambição desmedida de melhorar, iamos acabar por não viver o presente. Esta ambição é ilimitada, portanto será que estamos a desperdiçar o presente? Devemos viver o presente? Apenas o presente? A questão do tempo. Todos concordamos que é desinteressante viver o passado. Quanto ao presente a questão fica mais complexa. É claro que não faz sentido prepararmos um futuro que não vamos aproveitar pois quando ele chegar estamos a preparar outro. Resta o "grande" viver o presente. Viver totalmente o presente é não controlarmos a nossa situação. Quem vive apenas o agora não controla o futuro presente. E o futuro presente é muitas vezes a chave do prazer. Grande parte da felicidade é sabermos que vamos fzer algo que nos vai deixar feliz, a ansiedade. Depois de o acto estar feito é triste e enquanto o fazemos é muitas vezes triste porque sabemos que ele vai acabar. Claro que isto não aconteçe em todos os casos mas em alguns. Devemos viver o presente, mas vivê-lo de uma maneira que nos garanta a qualidade do próximo presente. A chave da felicidade não pode ser viver totalmente o presente, mas sim vivê-lo sabendo que vamos continuar a viver um presente tão bom. Muita da felicidade vem dessa segurança. Então a nossa mudança deve ser feita com o que para nós é melhor, grantindo que estamos a mudar para melhor. Então o tempo, o presente deve ser dispendido com o que para nós é melhor, tendo sempre atenção ao futuro. Porque nem nós podemos piorar, nem o presente. O que quer que faças, vais ser sempre tu. Mesmo que mudes toda a vida, a tua essência vai estar sempre lá. Tal como o que viaja pelo mundo, aprende a ter uma casa dentro de si. Mudar não é fraqueza, mudar é força. Saber que a honra não é nada, é algo relativo numa pequena mentalidade. A grande mentalidade não tem honra, conhece o mal, e tenta alcançar o bem, que não existe universalmente, mas dentro de si. É muito dificil encontrar o nosso bem." Mushu olho-o nos olhos e sorriu. Levantou-se e foi ter com ela, mal a viu, abraçou-a a contou-lhe que tinha mudado. Nunca mais entraria em guerras, nunca mais defendia os seus atacando outros. Apartir de agora ia sempre sorrir. Sempre, sempre, sempre. Mushu mudou. Aí reside o mistério. Escusado será dizer que nunca mais voltou para casa, tinha encontrado a sua própria casa dentro de si, tal como o guru disse.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Felicidade?

Diz o sábio que quem vive na floresta a lutar pela sobrevivência é verdadeiramente feliz. Diz o senhor das sete vidas que a verdadeira felicidade vem de uma vida curta. O sensato sussurra que a eperiência de vida é a tua felicidade. O existencialista grita aos céus que tu és apenas feliz depois de seres infeliz. A verdadeira felicidade é, segundo Mushu, viveres. Viver não será o mesmo que estar vivo, estar vivo é não estar morto. Viver é ter a consciência da existência de algo em prol da não-existência. Quanto melhor tiver eu consciência do momento que vivo e da minha existência mais feliz serei naquele momento. Por isso, a meditação é usada como método de auto-consciência universal que aspira a um estado de felicidade sobrenatural, quando maior for essa visão. Para uma pessoa que espera a morte, estar vivo é ser feliz, mas será ser feliz estar vivo para quem já se habituou? Nada é felicidade para quem se habitua. Por isso o sábio disse que lutar pela sobrevivência seria a verdadeira felicidade porque um humano nunca se habitua. E, no dia que se habituar, está morto, e assim nunca poderá ser infeliz. Mas se ele nunca será infeliz, ele vai-se habituar a ser feliz e vai perder a sua felicidade no rio que atravessou toda a vida. O senhor das sete vidas diz que o avisou e por isso é que lhe disse que a felicidade era ter uma vida curta, é a melhor maneira de, seguindo o sábio, ser feliz. Assim não há tempo para se habituar. E quanto mais curta for mais vida terá, mais concentrada será a experiência da vida. A vida perfeita seria uma experiência de vida muito completa numa vida longa em vez de curta. Aí o sensato ri-se e começa a dançar. O existencialista permanece sentado e diz ao sensato que se a experiência de vida não pode ser sempre boa pois cria habituação. Todos os seres humanos têm experiência de vida e não é isso que os faz felizes. O que os faz felizes é depois de uma má experiência terem uma felicidade comparativa. Só é feliz quem sabe o que é a infelicidade. Só é livre quem sai da prisão. Então quem tem razão? O sensato? O sábio? O senhor das sete vidas? O existencialista? Só os fracos têm razão, o mundo é demasiado bonito para isso, ao menos estamos vivos, disse Mushu.