quarta-feira, 14 de março de 2012

Conversas (1) – Conversa com Descartes

Falei-lhe da questão dos sentidos nos enganarem. Da linha do horizonte não ser uma linha. De colocarmos um braço debaixo de água e provocar uma ilusão óptica. De não podermos ter uma certeza do mundo físico. De acharmos que a realidade está lá mas ao sermos enganados pelos sentidos não temos provas da sua veracidade. Da perfeição não ser enganada, da perfeição ser sábia, da perfeição não sermos nós. Como é que, com a nossa imperfeição, alcançamos então o conhecimento verdadeiro, essa veracidade? E porque estamos condenados a ser imperfeitos?
Descartes entrou na corrente de perguntas e acrescentou. Então como é então possível saber o que é o conhecimento verdadeiro universal quando não o conhecemos, sendo inalcançável. Como é que este conceito existe na nossa cabeça , como é que um mundo de imperfeitos sabem que pode conceber a existência de perfeição. Então logo a seguir Descartes responderia à sua própria pergunta, teria que existir um Deus. Um Deus como Ser Perfeito, como ele referiu a sorrir. Como só o que é perfeito pode ser a causa da ideia de perfeito. Deus existe, afirma convincentemente.
Rapidamente e, claro, atenciosamente perguntei como pode ser esse Deus a perfeição se concebeu a imperfeição. Se virarmos o jogo para o lado dele, como pode ele ser perfeito e conceber a imperfeição? Como pode ele ter a solução e criar-nos sem o conhecimento dela, nesta espécie de jogo? Talvez começo a suspeitar que Deus nos engana.
Ele soltou um riso e afirmou rapidamente que também ele próprio tinha duvidado disso. Mas que Deus é omnipotente e perfeito e que enganar é sinónimo de fraqueza. É justo. Deus realmente pode não nos enganar na medida em que nos mostra o perfeito e não o esconde assim temos consciência da nossa imperfeição e isso não é engano. Dar-nos a conhecer a perfeição.
Então rapidamente fiz-lhe uma proposta. Uma maneira de Deus como ser perfeito existir, conceber-nos imperfeitos e não nos enganar é nos sermos individualmente imperfeitos. Mas todas as imperfeições no seu todo completam todas as partes de todos os truques no mundo. A perfeição de todas as imperfeições juntas. Tal como o jogo do prisma de Newton, quando as cores se sobrepõem sobre a retina do olho do observador, dando a sensação do branco. Assim Deus é todo o ser vivo. É a ideia de perfeição que nós temos mas claro devido às nossa experiência e realidade não universal alcançada que não alcançamos esta ideia. Mas quando se junta o todo é concebida uma ideia de perfeição que é Deus. Supostamente Deus é tudo, nós o que nos rodeia, o que não nos rodeia, e o que nos rodeia mas que nós desconhecemos. É a verdade universal e quem a conhecer tem o seu conhecimento. Metade mais metade é igual a um. Um todo, provado matematicamente como o próprio gosta. Mas continuo sem perceber se estamos condenados à imperfeição.
Ele levantou-se, soltou uma gargalhada e foi-se embora. Não sei se concordou comigo ou se entendeu a minha ignorância e brinca com o facto de saber a solução. Qualquer que seja a sua atitude acho que entendeu o meu ponto de vista. Mas, no fundo, quem sou eu? Um imperfeito. Quem é ele? Um imperfeito. Não posso pensar que sou imperfeito mas sim que sou uma parte da perfeição.

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